Assembleia Geral da ONU tem 'sauna' para jornalistas, presidentes à paisana e comida limitada; veja bastidores

Tradutor de mão, bandejão e mosquitos: os bastidores da Assembleia Geral da ONU
Escada rolante que parou, presidente francês sem conseguir atravessar a rua, discurso de quase uma hora de Donald Trump e o surpreendente aceno do chefe da Casa Branca ao presidente Lula.
Essa foi a Assembleia Geral das Nações Unidas que o Brasil e o mundo assistiram. Mas a edição de número 80 deste encontro de líderes mundiais bastidores que poucos viram.
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A equipe da TV Globo registrou alguns deles. Veja abaixo:
Os jardins da Babilônia
Tenda montada para jornalistas que cobrem a Assembleia Geral da ONU de 2025 abriga até 400 profissionais, que têm auxílio de transmissores em tempo real do evento.
Lucas Vidigal/ TV Globo
A área externa da sede da ONU tinha mais jornalistas do que diplomatas na maior parte do tempo nesta Assembleia Geral. Microfones com símbolos de emissoras de todo o planeta, idiomas que se misturavam, equipes completas e repórteres multimídia ocupavam os espaços livres nos jardins com vista para o East River.
Para concentrar os profissionais da imprensa, a ONU montou – como em outros anos – uma enorme tenda no gramado para quase 400 correspondentes. Telões transmitiam os discursos do plenário da Assembleia e os eventos paralelos. Quem quisesse podia pegar um terminal com o áudio das discussões traduzido simultaneamente para diversas línguas, incluindo o português.
Equipamento fornece o áudio com a tradução em tempo real dos discursos da Assembleia Geral da ONU de 2025
Lucas Vidigal/ TV Globo
A tradução em português, aliás, pegou de surpresa quem assistia ao discurso de Donald Trump pela fonte original, em inglês. No meio da fala, o áudio presidente dos Estados Unidos foi atravessado pela versão em língua portuguesa.
Os jornalistas na tenda se entreolharam – e até quem estava fora perguntou em grupos de mensagem se era um problema das agências que transmitiam ou da própria ONU. Mas rapidamente a voz rouca de Trump voltou a ser a única ouvida.
Ao g1, a organização explicou que um intérprete apertou sem querer o botão errado.
A sauna de imprensa
Dia cheio na tenda da imprensa nos jardins da ONU durante a Assembleia Geral, em 23 de setembro de 2025.
Lucas Vidigal/ TV Globo
Cada país pode dar até três presentes para a ONU. É comum andar por aqui e encontrar quadros, estátuas e até aparelho de TV com uma placa explicando quem deu aquele presente.
Durante a Assembleia Geral, o correspondente da Globo Felippe Coaglio ouviu uma brincadeira: "o Centro de Imprensa foi um presente da Finlândia?". Era uma piada sobre o calorão dentro da tenda da imprensa. O lugar foi apelidado de sauna — e por isso a brincadeira com os finlandeses, conhecidos mundialmente pelo hábito de fazer sauna.
“No início, achei que o calor era por conta das temperaturas um pouco acima do normal para essa época do ano em Nova York, mas uma fonte das Nações Unidas garantiu que a resposta estava no ar-condicionado: por conta da grave crise financeira que a ONU enfrenta, os organizadores da Assembleia Geral escolheram a opção de tenda mais barata para abrigar os jornalistas. O ar não deu vazão, e o calor foi intenso", disse Coaglio.
Equipes de reportagem do mundo também se posicionaram na parte de fora da sede da ONU em Nova York para a Assembleia Geral da ONU de 2025.
Lucas Vidigal/ TV Globo
Aliás, ninguém sabe como vai estar o tempo em uma Assembleia da ONU. A reunião sempre é marcada para a última quinzena de setembro, ali na fronteira entre o verão e o outono de Nova York. Quem vem de outros países é avisado a trazer de tudo: de uma camisa leve a um casaco corta-vento.
Em 2025, o tempo variou demais. Manhãs frias de 12°C foram seguidas de tardes quentes de 27°C. A terça-feira (23), dia do discurso de Lula e Trump, teve calor e mormaço.
Na quinta, porém, caiu um toró enquanto os telões transmitiam o pronunciamento remoto do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Uma equipe de imprensa da Austrália precisou se abrigar na tenda exclusiva da TV Globo (veja imagem abaixo).
Jornalistas australianos buscam abrigo na tenda da TV Globo na quinta-feira, 25 de setembro, dia de chuva na Assembleia da ONU de 2025 em Nova York.
Anderson Gazio/ TV Globo
A chuva chamou visitantes indesejáveis para os jornalistas na área externa: mosquitos. Minutos antes de entrarem ao vivo na GloboNews, os correspondentes Sandra Coutinho e Guga Chacra tentavam matar os que insistiam em voar ao redor dos dois.
Presidente gente como a gente
Primeiro-ministro da Irlanda, Michéal Martin, concede entrevista a jornalistas em 22 de setembro de 2025, em meio aos eventos da Assembleia Geral da ONU,
Lucas Vidigal/ TV Globo
As ruas e avenidas do bairro de Turtle Bay ficam total ou parcialmente fechadas por causa do enorme aparato de segurança montado para a Assembleia Geral. Nada surpreendente, considerando o elenco do evento.
Algumas comitivas, como a dos Estados Unidos, chegam em comboio enorme e com segurança mais reforçada ainda. Nem pedestre pode passar. E isso gerou uma situação inusitada por quem estava em Turtle Bay.
“Eu estava jantando em um restaurante da Segunda Avenida. E vi o Emmanuel Macron, presidente da França, parado na esquina com um celular”, relatou a correspondente da Globo Carolina Cimenti.
A jornalista não sabia na hora, mas estava presenciando um meme e uma das situações mais inusitadas desta Assembleia Geral – Macron telefonando a Trump para que ele liberasse a passagem para os pedestres, fechada devido ao comboio presidencial americano.
Macron é 'barrado' em rua de Nova York para passagem de comitiva de Donald Trump
Macron, aliás, era só mais um a caminhar como um nova-iorquino pela Segunda Avenida nos dias de Assembleia. O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, preferiu ir a pé do consulado para a sede da ONU e passou pela mesma entrada que jornalistas, diplomatas e outras pessoas envolvidas no evento. Sem grande alarde.
Do lado de dentro, não era difícil esbarrar em outros líderes que conseguiam ficar mais à paisana nos jardins. Alguns porque aguardavam a imprensa, como o primeiro-ministro da Irlanda, Michéal Martin. Outros porque descansavam e aproveitavam para comer um sanduíche num dia agradável, como o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa – flagrado pelo correspondente Felippe Coaglio.
“No ano passado vimos Volodymyr Zelensky e Ursula Von Der Leyen no restaurante da ONU. Neste ano, me surpreendi quando encontrei o presidente de Portugal comendo um sanduíche, sozinho, num banco na área externa da ONU. Conversamos por alguns minutos sobre a comunidade portuguesa no Brasil, falei que meus avós vieram de Portugal e que graças a eles também sou cidadão português”, contou Coaglio.
Correspondente Felippe Coaglio encontra o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, descansando nos jardins da ONU durante a Assembleia Geral de 2025.
Divulgação/ TV Globo
Cadê a comida?
O presidente português foi esperto em se antecipar com a comida. Porque as opções (ou a falta de) irritaram os diplomatas e jornalistas. Nos dias mais movimentados, os itens de almoço na tenda de imprensa acabavam antes das 13h.
Fila sempre cheia na lanchonete do Centro de Imprensa da Assembleia Geral da ONU de 2025.
Lucas Vidigal/ TV Globo
O jeito era descer para uma lanchonete no subsolo ou pegar uma das longas filas no refeitório — e passar por mais uma camada de detector de metais e caminhar um bocado.
E, por volta das 16h, nem lanche tinha. As lanchonetes fechavam – mesmo que ainda houvesse gente discursando até o fim da noite.
Lanchonete do Centro de Imprensa da Assembleia Geral da ONU fechava sempre no meio da tarde.
Lucas Vidigal/ TV Globo
Havia, porém, máquinas que também ficavam no subsolo. Quem quisesse, teria de andar e andar por jardins, corredores e escadas. Para piorar, alguns bebedouros também paravam de funcionar no fim da tarde.
E, aí, um grande problema: o lixo – logo em uma ONU que tanto tem insistido para que os países se comprometam com o meio-ambiente. No centro de imprensa, havia apenas grandes recipientes, sem local para coleta seletiva.
O mau exemplo de quem largava pelo espaço copos sujos de café e restos de comida não ajudavam em nada (veja imagens abaixo).
Copo vazio de café deixado no Centro de Imprensa da Assembleia Geral da ONU de 2025.
Lucas Vidigal/ TV Globo
Revistas encharcadas pela chuva e lixo na área externa da sede da ONU em Nova York em 25 de setembro de 2025.
Lucas Vidigal/ TV Globo
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